domingo, 8 de março de 2009

Astrologia - Livre arbítrio e destino - parte 1

Maktub, palavra árabe que pode ser traduzida pela expressão: "está escrito", pode expressar o conceito de destino em parte apenas. Desde o princípio dos tempos o ser humano se pergunta se existe um destino, um caminho em que somos inseridos no início da nossa existência, ou toda a nossa vida é apenas uma soma de acasos e somos completamente livres para fazermos o que quisermos.

A astrologia, como instrumento para compreensão do ser humano e sua interação com o universo circundante pode ajudar nesta tarefa herculanea. No entanto, tais questões extrapolam suas fronteiras e entram em questões metafísicas, místicas e filosóficas. Se um pesquisador quer encontrar respostas, ele tem que saber que os meios de saber estão entrelaçados . A astrologia como ferramenta de compreensão do homem faz parte da história da humanidade e encontra sua estrutura em raízes mais profundas e por mais que tentemos "cientificar" a astrologia, ela lida com conceitos e com perguntas que ultrapassam as possibilidades da ciência material, pois lidam com as expressões da alma humana, seus caminhos neste mundo. Esta arte nos mostra como somos, como o universo age em nós, ou melhor como fazemos parte deste universo.

"Não como caminhamos, mas qual o caminho e o porque se caminha, constituem o maior mistério que nos cerca sobre a vida neste mundo".

Esta arte, a astrologia, em sua aplicação prática trata diariamante com esta questão, somos apenas conduzidos por um destino maior, ou os astros apenas nos dão as potencialidades e somos nós que a usamos como queremos. Hoje em dia, muito se tem falado e escrito sobre uma astrologia que prega que os astros não fatalizam. De certo modo está correto está teoria, mas não podemos nos esquecer, que na maioria das vezes o cosmo determina. Temos o direito a liberdade, mas esta tem um limite de ação. Um pesquisador que olhar atentamente as questões na vida das pessoas, pode ver que em grande parte as ações das pessoas estão dentro de um contexto maior e que as vezes pode-se notar que elas caminham, mas nem sempre tem total controle das "paisagens" que aparecem.

Quando uma pessoa nasce, respirando o sopro divino que lhe dá a vida, considera-se que o mapa natal é formado. Por que aquela pessoa nasceu naquele momento e não em outro? Naquele momento, o astrólogo poderá saber o que aquela pessoa atrairá para a sua vida, que as potencialidades que ali ele pode interpretar trarão prazer ou dor para aquela pessoa. Mas, por que ela tem que ser daquele modo e atrair aquelas situações?

Para tentarmos compreender em parte se existe um destino e um livre arbítrio, temos antes que entender o que vem a ser os conceitos de livre arbítrio e destino. Tentar ultrapassar o véu que oculta estes mistérios não é uma tarefa fácil, mas nas poucas estruturas que podemos nos sustentar podemos ao menos vislumbrar a luz.

O Destino

Todo profissional da astrologia depara-se diariamente com esta questão: como sabermos o que é destino, se é que este existe, e aonde começa a liberdade? Será que as configurações do mapa natal são apenas indícios de potencialidades?

Creio que esta resposta seja não, pelo menos em parte. Há um destino, uma força misteriosa que é conduzida por um mecanismo perfeito e que impregna a todos, estando em todos os lugares. Entretanto esta poderosa força tem um "ponto fraco", que nem os deuses esperavam que o seres humanos a pudessem encontrar. Somos nós a raça humana que construímos boa parte deste destino. Apesar de estarmos inseridos em um plano maior que desconhecemos, muitos dos acontecimentos e caminhos que passamos são provocado por nós mesmos, ou como dizem os indus, o Karma. Entraremos mais tarde, no significado mais profundo deste termo.
Segundo Platão, a roda (do universo) gira sobre os joelhos da Necessidade e, na parte superior de cada círculo, se encontra uma sereia, que gira com eles, entoando uma só nota, um só som. As oito juntas formam um todo harmônico e, em sua volta, em intervalos iguais, há um outro grupo de três sereias, cada qual sentada no seu trono: são as Parcas, filhas da necessidade, que vestem túnicas brancas e usam uma coroa na cabeça.

A figura do mito se torna uma importante fonte de conhecimento para que possamos tentar compreender este destino vivo que pulsa entre nós, pois estes mitos são a representação do mecanismo da natureza que os antigos esconderam sob esta forma.

Segundo platão que retirou do mito grego, as Parcas são as senhoras do destino, acima mesmo de Zeus que nada pode contra elas. Elas trabalham apenas com Saturno-Cronos, o senhor da morte. Elas estão deste o nascimento e mesmo antes deste, sob o controle, pois alguém que nascera já tem um karma, um destino. Elas o colocarão no lugar e na hora certa e de tal modo o retirarão na hora adequada.

Filhas de Nyx, a deusa da noite, ou de Erda, a mãe terra, elas são chamadas Moiras ou Erínias ou Normas ou Hécate de três faces. A primeira no mecanismo é Cloto que tece o fio, Láquesis em seguida, mede-o e Átropos corta-o, e os próprios deuses estão limitados por estas três, por terem sido originados da incipiente Mãe Noite, antes de que Zeus e Apolo trouxessem dos céus a revelação do eterno e incorruptível espírito humano.

A intrincada visão de Platão com as parcas governando o cosmo, nos mostra que este destino é fruto da necessidade ( as Parcas), ou seja, elas são o mecanismo que governa o destino individual e sua união com o todo. A necessidade que tem o universo de fazer com que cada um tenha responsabilidade, tenha sua parte em conseqüência a seus atos. Dai vem o significado da palavra Moira, que significa literalmente, quinhão, o quinhão de cada um.
Este destino os gregos chamam de Moira, chamada " a serva da justiça": o que contrabalança ou pune os desvios com relação às leis do desenvolvimento natural. Este destino pune o transgressor dos limites fixados pela Necessidade.

O texto gnóstico denominado Corpus Hermeticum, expressa as relações e o mecanismo do destino com bastante destreza:

" E, portanto, ambas, a Sorte e a Necessidade, estão atadas uma à outra, por inseparável coesão. A primeira delas Heimarmenê, gera o começo de todas as coisas. A Necessidade compele ao fim de tudo que depende desses princípios. Na esteira de ambas vem a Ordem, que é sua tecedura e drama, e a organização do Tempo para a perfeição de todas as coisas. Pois nada existe sem a fusão intima da Ordem.

Este texto nos mostra que a manifestação do destino está sob as ordens das Moiras, servas da justiça, mas que estas trabalham para a "Ordem". Deste modo podemos concluir, que a ordem universal das coisas manifesta-se através da Parcas e sua atuação sob as ações e suas conseqüências. Cabem a elas, "colocar" um indivíduo dentro do seu Karma próprio, quando este extrapola o seu direito a liberdade e é tomado de Hubris, a tentativa de ultrapassar o limite do destino fixados para si ( que é, implicitamente, o destino da pessoa, mostrada pela posição dos planetas e signos na carta natal). Portanto, a atuação mais drástica das Moiras na vida de uma pessoa, é dada pela extrapolação das leis naturais, da Ordem natural das coisas, quando esta tenta extrapolar o que lhe foi concedido. Esta é uma benção divina, a liberdade humana, ou uma maldição. Da mesma maneira que podemos ser livres para fazermos nossas escolhas dentro de certos padrões, quando tentamos extrapolar o que destino nos reserva , as parcas se mostrarão mais ferozes, e cabe a nós sabermos se queremos pagar o preço pela nossa ousadia de nos consideramos homens-deuses.

É a partir da liberdade que gera-se o destino pessoal, pois cada ação gera uma reação correspondente. Portanto, ações que estejam dentro da Ordem natural das coisas, tendem a provocar o Dharma pessoal, diminuído seu Karma, e como conseqüência profetizando a necessidade ou não de uma outra possível reencarnação, mas este assunto apesar de pertinente, seriam necessário livros para estuda-lo adequadamente. Este destino pessoal, se assim pode-se dizer está colocado dentro de um destino maior, o plano pelo qual fomos enviados a este mundo originalmente. Se compreendermos conscientemente e atuarmos em consonância com o destino pelo qual estamos aqui ( o que concordo não é uma tarefa fácil) esta harmonia implicará em que todo o universo conspire a nosso favor, de modo que as Moiras não nos afligirão.

Parece ambíguo, pois assim como a liberdade forma nosso destino e não podemos sair dele? As Parcas são as responsáveis para que não extrapolemos os limites naturais e sigamos o nosso destino, ai termina nosso livre arbítrio, no limiar do que nos cabe. Imaginem que o destino seja um mapa rodoviário. O plano global pelo qual fomos colocados neste mundo constitui os caminhos, as estradas e, se não conscientes caminharemos guiados pelas Moiras até completarmos nossas missão, hora em caminhos difíceis, hora em mais fáceis. Entretanto, quando conscientes deste destino, podemos escolher qual caminho queremos seguir, não que este seja apenas um mar de tranqüilidade, mas que a partir dai estaremos em um caminho que pertence o nosso destino e de certo modo as coisas serão familiares para nós, pois estaremos no nosso verdadeiro caminho. Continua na segunda parte...Clique aqui!

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